segunda-feira, 3 de agosto de 2015

SMAM 2015: Apoio à mulher que trabalha e amamenta

Quem vê a cena de uma mulher serenamente amamentado não sabe se, ainda durante sua gravidez, a expectativa sobre o sucesso da amamentação era angustiante. Se acordava de madrugada pensando se teria leite suficiente, se conseguiria amamentar, se o leite não seria fraco, e que tudo isso poderia ser uma tortura.

Quem vê um bebê adormecer placidamente ao seio não vê a mulher que há meses não dorme uma noite inteira. Não imagina as dores que ela possa ter sentido nos primeiros meses de amamentação, que apesar da dor, do empedramento do leite, do seio escorrendo sangue, ela pode ter persistido e conseguido continuar amamentando.

Quem vê uma mulher amamentando desinibida em lugar público não se pergunta sobre a rede de apoio que foi necessária para que ela continuasse a ter momentos tão cheios de amor com seu bebê. Se havia um(a) companheiro(a) que acordava junto com ela para acalmar o bebê que chorava, se tinha amigos que passaram na sua casa e trouxeram comida quentinha quando ela se via perdida na casa suja em meio aos choros e à solidão do puerpério. 

Quem vê um bebê já grande sendo amamentado, não questiona sobre os colegas de trabalho de sua mãe que fizeram todo o possível para que ele seguisse mamando mesmo ela tendo de voltar à jornada antiga. Quem vê essa cena, não tem a mínima noção do quanto é sacrificante persistir amamentando mesmo com olhares e comentários de reprovação.

Quem vê uma mulher amamentando, não imagina a satisfação e a felicidade que é ver o bebê engordar e crescer loucamente somente com o leite produzido pelo seu próprio corpo. 

Ao mesmo tempo, quem vê um bebê segurando bravamente sua mamadeira, nem pensa se sua mãe, por conta da mastite, viu seu leite se misturar à sangue e pus, e se gritou dores lancinantes e desistiu da amamentação. Ou se via seu filho mamar incansavelmente mas não se satisfazer com o leite que brotava do seu corpo e acabou optando pela complementação.

Quem vê uma mulher dando mamadeira ao seu bebê, não pensa em questionar a indústria do leite artificial que insiste em fazer as mulheres acreditarem que seus corpos são falhos e patrocinam até mesmo os pediatras para lhes fazerem pensar assim.

Quem vê uma mulher com seu bebê nos braços a apoiar uma mamadeira, não imagina que a despeito da ausência dos hormônios da amamentação, é também possível criar vínculo e laços de amor ainda que ausente a sucção ao seio.

Quem vê uma mulher que não conseguiu amamentar, esquece de perguntar se teve alguém que lhe limpasse a casa, lhe fizesse comida, lhe desse palavras de apoio, lhe chamasse para conversar e fazer um passeio, lhe oferecesse o ombro para chorar as angústias nunca antes vividas.

Porque amamentar é antes de tudo um evento coletivo. Cada mãe que possui uma história bem sucedida de amamentação tem por detrás de si toda uma rede de apoio. E por saber que a minha história bem sucedida é uma vitória coletiva, é que é tão importante saber acolher quem não conseguiu amamentar. Enxergar os meus privilégios e reconhecê-los como tais, faz com que o meu olhar sobre o outro seja de empatia e não de julgamento. Porque o aleitamento está além de ser uma escolha individual, visto que é algo que depende intimamente do apoio que se recebe.

E por ser o aleitamento algo tão importante para o bebê e o apoio tão determinante para esta conquista é que devemos lutar para que o apoio ao aleitamento materno seja cada vez maior e que perpasse todas as esferas da nossa vida, seja ela familiar, social, legislativa ou corporativa.

E, ainda, por saber que muitas mulheres para conseguirem maternar precisam trabalhar, ou mesmo, para se realizarem com a maternidade precisam também se sentirem realizadas com sua vida profissional, que é importante dar suporte à mãe que amamenta e que trabalha.

Por este motivo, aproveito a Semana Mundial do Aleitamento Materno de 2015 que tem como mote o apoio à mulher que trabalha e amamenta para agradecer imensamente a toda a minha rede de apoio que tem me acolhido nessa caminhada que já dura mais de dois anos e meio.

Agradecer ao meu marido que esteve prontamente ao meu lado sendo a base da nossa relação de amamentação, auxiliando sempre desde a simples oferta de um copo de água até resolvendo todos os perrengues que estavam além da díade mãe-bebê. Que, além disso, tem sido fundamental na condução do desmame que há pouco se iniciou.

Aos meus colegas e amigos de trabalho que prestaram apoio incondicional a mim e ao Daniel quando tivemos que voltar ao trabalho já nos seus quatro meses de vida. Voltamos juntos, com sala, berço e muito colos e abraços emprestados.

À minha mãe que sempre esteve tão presente desde o nascimento e que já há algum tempo passa noites com o Daniel para que possamos dormir noites inteiras, ou mesmo não dormir e relembrar a vida de quando ainda éramos somente filhos.

À pediatra mais linda que já conhecemos que sempre buscou antes de aconselhar, ouvir. Que nunca desincentivou o aleitamento, pelo contrário, sempre deu forças para que ele se mantivesse enquanto julgássemos necessário.

E aos amigos que não se afastaram. Que mesmo com nossa mudança radical de vida e já cansados de tanto me ver com os peitos de fora, continuaram a nos proporcionar boas risadas e momentos que só encontramos com aqueles que escolhemos ser irmãos.

Por tudo isso, nesta semana tão especial, desejo apoio às mães que amamentam e acolhimento às que não conseguem.


E por aqui já teve texto sobre amamentação, machismo e misoginia.

E muitas dicas do Dr. Carlos Gonzalez para o sucesso do aleitamento.

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