segunda-feira, 19 de setembro de 2016

Por que ser mãe na política incomoda tanto?



A maternidade e a defesa da infância estão em pauta este ano na campanha eleitoral à Prefeitura de Curitiba e vem sendo trazidas pela candidata do PSOL, Xênia Mello. E, além disso, essas questões têm sido abordadas de maneira bastante honesta e política. Sim, política no sentido de afirmar que a maternidade e a infância são pautas que DEVEM fazer parte da vida política, sendo pensadas e consideradas em todas as decisões nas esferas legislativas e administrativas.

Desde sua última campanha em 2014, Xênia já fazia questão de mostrar que a maternidade era uma de suas pautas e como feminista que é nunca deixou de lado a máxima: o pessoal é político!



Ocorre que na atual campanha tenho visto muitas críticas em relação ao discurso que a Xênia adotou. Embora ela também afirme repetidas vezes que é negra e tem origem periférica, o que parece mesmo incomodar é sua condição de mãe aliada as falas tão frequentes sobre seu filho. Ora, ainda que as questões raciais e de classe sejam quase sempre silenciadas nos debates políticos, é sintomática a invisibilização das mulheres mães.

Quem a crítica pelo discurso ainda não entendeu que a maternidade e a infância devem ser pautas políticas. Não entendeu que durante toda a história da sociedade moderna, a maternidade foi um grande trunfo para manter as mulheres afastadas da vida pública e, principalmente, da vida política.

Reivindicar a luta política quando exercida em concomitância à maternidade é algo histórico e muito corajoso. É um grito solitário em meio a uma política feita majoritariamente por homens.

Quando uma mulher se dispõe a participar ativamente da vida política e ao mesmo tempo assume a maternidade, ela rompe com vários estigmas e etiquetas sociais que são usadas justamente para evitar que as mulheres tomem as rédeas das decisões políticas. Aliás, o instinto materno é um mito alimentado toda vez que as mulheres passam a se conscientizar dos prejuízos que lhes são causados em virtude da ausência de representação política. Faz-se acreditar que as crianças devem ser sempre cuidadas em período integral pela mãe, que ela é a melhor cuidadora para os filhos e que está biologicamente preparada para isto. Ora, cuidar de crianças é algo extremamente exaustivo quando a tarefa é realizada de modo solitário. Incumbir essa atividade exclusivamente às mulheres é um meio eficaz de afastá-las da política.

Ou seja, a ideia de que maternidade e política são esferas inconciliáveis só favorece àqueles que não querem que mulheres participem das decisões políticas. Ironizar o fato de que uma candidata fala exaustivamente sobre seu filho e sua maternidade é combustível para silenciar uma pauta tão importante e tão necessária às mulheres e às crianças.

E é justamente essa a importância de termos uma candidata que não cansa de afirmar que é mãe e que não faz essa afirmação de maneira demagógica, o que é tão comum na política. Geralmente quando as crianças são citadas em campanha eleitoral, são utilizadas como instrumento para enaltecer supostas virtudes do candidato. São comuns as imagens de políticos carregando crianças em horário eleitoral ou mostrando sua rotina em casa ao lado dos filhos. A criança nada mais é do que um token e nunca protagonista do discurso.

E este tipo de imagem nunca foi utilizado pela Xênia. Ao contrário, a imagem de seu filho transcende o espaço privado quando ela afirma que ele frequenta a creche municipal, que utiliza o transporte público, e quando fala de sua própria infância na periferia de Curitiba, sempre tão esquecida nos projetos políticos.

Posso afirmar porque conheço a Xênia há um bom tempo. Sua vida é coerente ao seu discurso político. Sua maternidade é exercida de forma coletiva de maneira a responsabilizar a todos pelos cuidados com as crianças. É disso que a cidade precisa: que a responsabilidade pelos cidadãos e, sobretudo, pelas crianças seja de todos. Que a cidade seja feita e pensada para as pessoas. Que as crianças e as mães possam sair do espaço privado e tomar a cidade.

A Xênia Mello é a única candidata que reivindica o direito à cidade para as crianças e encerro com as suas palavras que transmitem um desejo que eu também compartilho como mulher e mãe:

“A gente precisa construir formas de viver e construir a política que acolha e inclua as crianças, em respeito à sua autonomia e concebendo-a como cidadãs inclusive tomando-as como produtoras da política e não apenas como seres tutelados e objetos de submissão da vontade dos adultos. É nesse mundo que acredito, é por esse mundo que eu luto!

E para quem critica, reafirmo: vai ter mãe feminista na política sim e vai ter discussão acerca dos direitos da criança também! 


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